2007-06-10

Romance de um vagabundo

ENSAIO:

RECORTE:


«Eu sou de um povo dali, que não vem ao caso dizer o nome... Ali nasci e ali fui criado em casa que, sem ser rica, foi sempre farta».

«Ainda falaram em meter-me no seminário e ainda o senhor padre João se pôs a ensinar-me latim, mas não tardou que desistissem. Disseram que não tinha queda para os estudos. Que padre teria eu dado?!»…

Calou-se, tirou as últimas fumaças do cigarro e arremessou para longe a ponta, que ainda um momento ficou a luzir na areia branca do caminho. Depois, na voz mansa um leve tom de precipitação, quase ofegante, continuou a sua história...

COMENTÁRIO


Ao propor ao grupo a adaptação dramática de «Pedro, Romance de um vagabundo», não sabia que outra adaptação fôra feita há bastantes anos por Assis Pacheco para um filme de Alfredo Tropa, com o nome «Pedro, só».

Pertencendo eu a uma geração mais nova de realizadores da RTP, mas tendo sido durante anos colega de trabalho de Alfredo Tropa, não me fica bem esse desconhecimento, mas compensa-me o prazer da surpresa.

Mérito maior para o autor do romance original, MANUEL MENDES, quando vemos como o interesse pela sua obra se mantém, decerto porque o tema continua actual mas também pela frescura, a ironia e o sentido humanista da escrita. Pela exaltação da liberdade e da dignidade do Homem, que se não confundem com jogos de aparências e antes podem vestir-se com andrajos de pedinte.

António Moreno