2006-07-14

O GRUPO



O teatro põe carne nas palavras.
Põe pernas no andar, põe olhos no olhar…


O teatro dá-nos o Outro que queremos confrontar – a sensação do Outro.
O outro-eu, decerto.

O teatro que fazemos pretende mergulhar no interior do ser humano como modelo do objecto artístico.
Enquanto isso, sobre si próprio, o artífice opera.

A Outra cena (die Anderer Schauplatz) é o nome com que Freud designou o espaço do sonho. Essa é a experiência que queremos partilhar com os públicos.

· formalmente, entusiasma-nos a ideia de «teatro pobre», despojado de artifícios desnecessários e desvalorizadores dos actores;
· materialmente, move-nos a expressão das ideias e dos sentimentos em detrimento das pantominas;
· socialmente, somos parciais porque privilegiamos dar representação aos sentimentos reprimidos, silenciados, no espaço privado ou na esfera pública;
· pessoalmente, valorizamos as nossas diferenças individuais como factores de criatividade e enriquecimento colectivo.


Uma Outra cena para despertar*
Por: Antonio Quinet
O espetáculo teatral é sempre, em maior ou menor grau, uma encenação do inconsciente. Assim como o inconsciente é estruturado por cenas teatrais.

Todos nós, seres humanos, somos atores de um drama cujo enredo nos escapa e cujo autor desconhecemos.

Lacan chamou-o simplesmente de o Outro - o Inconsciente – que, por mais que o conheçamos, permanece por definição algo desconhecido. O processo analítico é uma leitura/escritura dessa peça.

Eis o que Freud descobriu: os sintomas estão associados a cenas recalcadas, que são representações teatrais condensadas em, por exemplo, uma paralisia do pé, uma tosse, uma mera dor de cabeça ou uma compulsão. Eles estão associados não apenas a uma cena, mas a várias, uma remetendo a outra, como numa obra de teatro, até chegar a uma cena principal que Freud denominou traumática, que é sempre sexual, infantil e tingida de horror - o que dá o aspecto trágico do inconsciente. Como no teatro, não importa se elas foram efectivamente vivenciadas ou fantasiadas, elas existem por si mesmas no inconsciente e manifestam-se nas diversas versões das tragédias, maiores ou menores, de cada um de nós, fazendo-nos agir como que guiados para uma alteridade radical : o Inconsciente-autor.