2006-07-15

PENSAO IMPERIAL

Inspirado em "Albergue Nocturno" de Máximo Gorki.

Da esquerda para a direita na foto: NINA - Ana Reis * PINTAS - Luis da Nóbrega * ESTRELA - Paula Mendes * GASPAR - João Pinto * NANDO - Nuno Carvalho * DONA ROSA - Paula Calhau * BRASUCA - Ricardo Carvalho * FÁTIMA - Sívia Rato * MAQUILLAGE - Paulo Nogueira * PADRE - C. Palminha

Uma pensão velha e degradada sobrevive à margem do desenvolvimento e hospeda gente igualmente marginal. Desde logo, a dona da pensão, antiga estrela do Parque Mayer de que herdou apenas recordações e uns vestidos inúteis. Mas também um «pequeno-comerciante»… de droga, à procura de negócio mais rentável; a mulher desempregada, de quem a sociedade quer mais os braços do que a força de trabalho; outra mulher para quem a Igreja foi a fantasia da infância e o bar nocturno é a realidade em que tem de viver; também o Pintas que trocou a droga pelas tintas, e um braço pela piedade, para enganar turistas consumidores de… malas-artes. Um espaço de pequenas misérias que atrai um padre generoso na esperança de levar a salvação aos desgraçados. E entre estes, um traumatizado da guerra, obcecado por vingar a morte do pai.

Inspirado em «O Albergue Nocturno» de Maximo Gorki, mas desviando-se dele no tempo e na geografia, esta pensão degradada alberga, também ela, pessoas marginais ou que têm de comum alguma ligação com a marginalidade social.

Nos finais do século XX, Portugal - representando aqui muito mais que um só país – é impotente para integrar os seus próprios escravos sociais, indivíduos inadaptados que estabelecem as suas próprias formas de organização numa lógica de transgressão.

Encontramos tudo isso representado nesta Pensão Imperial onde o presente de cada um é suportado apenas pela nostalgia e pela utopia, pela memória de um passado irrecuperável e pelo anseio de um futuro inatingível.

Ligando os fantasmas de um passado recente com a actualidade, um homem angolano que desde criança impôs a si próprio uma missão – vingar a morte do pai na guerra colonial dos anos 60/70.

FANTASMAS

Maquillage, o angolano que vem a Portugal depois da independência do seu país, para vingar a morte do pai na guerra colonial, é representado de formas diferentes nas duas versões em que a peça pode ser apresentada: ora é uma pessoa real ora é um fantasma interiorizado pelos hóspedes.

A um nível superior de leitura, esta versão do Maquillage-fantasma pretende convocar a ideia do fantasma imperial do(s) país(es) ex-colonizador(es), ou «fantasmas insepultos do império» a que se refere a obra de Margarida Calafate Ribeiro e Ana Paula Ferreira (org.) , «Fantasmas e fantasias imperiais no imaginário português contemporâneo» (Campo das Letras). Mas afinal, mesmo na versão em que Maquillage é uma personagem real, não deixa de invocar esse mesmo fantasma na memória do público.

À pergunta «O que é um fantasma?» Salman Rusdhie responde em “Os Versos Satânicos “: «Um assunto inacabado, só isso.» Nisto reside a actualidade da personagem no contexto mais vasto de «Pensão Imperial».