2006-07-15

O MEDO


«O MEDO» é a estória de uma mulher dominada pelo pânico de ver denunciada ao marido a relação que mantém com um amante. Mas é também uma aproximação aos mecanismos psicológicos que geram este sentimento e os comportamentos consequentes.

Nesta adaptação teatral, a protagonista conta um episódio da sua vida, ocorrido vinte anos antes, que vai sendo representado pelas respectivas personagens: ela própria, o marido, o amante e uma chantagista.

Um espectáculo que invoca, ao mesmo tempo, a personalidade cívica e intelectual de Stefan Zweig, o escritor judeu que nasceu na Áustria, foi cidadão do mundo e pôs fim à vida, no Brasil, em 22 de Fevereiro de 1942.


NARRADORA - Paula Calhau
IRENE WAGNER - Ana Reis
FRITZ(MARIDO) - Luís da Nóbrega
EDUARDO(AMANTE) - Nuno Carvalho
ACTRIZ(CHANTAGISTA) - Paula Mendes

uma época, um autor, uma estória

Nas vésperas da primeira Guerra Mundial, o escritor não imaginava os acontecimentos que se iriam seguir e como o medo iria dominar a vida das pessoas durante dezenas de anos. Mas a escolha do tema parece adivinhatória, à luz do que seria a História Universal nas décadas seguintes.

Tendo convivido com Sigmund Freud, Roman Rolland, Reiner Rilke, Claudel, Maximo Gorki, entre outras figuras proeminentes do século XX, Stefan Zweig foi ele próprio um autor fascinante na forma como viveu e como escreveu.

Não pode ser ignorado ou esquecido.

António Moreno

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Fotos de «O MEDO»






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PENSAO IMPERIAL

Inspirado em "Albergue Nocturno" de Máximo Gorki.

Da esquerda para a direita na foto: NINA - Ana Reis * PINTAS - Luis da Nóbrega * ESTRELA - Paula Mendes * GASPAR - João Pinto * NANDO - Nuno Carvalho * DONA ROSA - Paula Calhau * BRASUCA - Ricardo Carvalho * FÁTIMA - Sívia Rato * MAQUILLAGE - Paulo Nogueira * PADRE - C. Palminha

Uma pensão velha e degradada sobrevive à margem do desenvolvimento e hospeda gente igualmente marginal. Desde logo, a dona da pensão, antiga estrela do Parque Mayer de que herdou apenas recordações e uns vestidos inúteis. Mas também um «pequeno-comerciante»… de droga, à procura de negócio mais rentável; a mulher desempregada, de quem a sociedade quer mais os braços do que a força de trabalho; outra mulher para quem a Igreja foi a fantasia da infância e o bar nocturno é a realidade em que tem de viver; também o Pintas que trocou a droga pelas tintas, e um braço pela piedade, para enganar turistas consumidores de… malas-artes. Um espaço de pequenas misérias que atrai um padre generoso na esperança de levar a salvação aos desgraçados. E entre estes, um traumatizado da guerra, obcecado por vingar a morte do pai.

Inspirado em «O Albergue Nocturno» de Maximo Gorki, mas desviando-se dele no tempo e na geografia, esta pensão degradada alberga, também ela, pessoas marginais ou que têm de comum alguma ligação com a marginalidade social.

Nos finais do século XX, Portugal - representando aqui muito mais que um só país – é impotente para integrar os seus próprios escravos sociais, indivíduos inadaptados que estabelecem as suas próprias formas de organização numa lógica de transgressão.

Encontramos tudo isso representado nesta Pensão Imperial onde o presente de cada um é suportado apenas pela nostalgia e pela utopia, pela memória de um passado irrecuperável e pelo anseio de um futuro inatingível.

Ligando os fantasmas de um passado recente com a actualidade, um homem angolano que desde criança impôs a si próprio uma missão – vingar a morte do pai na guerra colonial dos anos 60/70.

FANTASMAS

Maquillage, o angolano que vem a Portugal depois da independência do seu país, para vingar a morte do pai na guerra colonial, é representado de formas diferentes nas duas versões em que a peça pode ser apresentada: ora é uma pessoa real ora é um fantasma interiorizado pelos hóspedes.

A um nível superior de leitura, esta versão do Maquillage-fantasma pretende convocar a ideia do fantasma imperial do(s) país(es) ex-colonizador(es), ou «fantasmas insepultos do império» a que se refere a obra de Margarida Calafate Ribeiro e Ana Paula Ferreira (org.) , «Fantasmas e fantasias imperiais no imaginário português contemporâneo» (Campo das Letras). Mas afinal, mesmo na versão em que Maquillage é uma personagem real, não deixa de invocar esse mesmo fantasma na memória do público.

À pergunta «O que é um fantasma?» Salman Rusdhie responde em “Os Versos Satânicos “: «Um assunto inacabado, só isso.» Nisto reside a actualidade da personagem no contexto mais vasto de «Pensão Imperial».

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AI FLOR, AI FLOR, AI FLORBELA

Texto dramático sobre a vida de Florbela Espanca.

Nele se cruzam narrativas e personagens verdadeiros - copiando frequentemente excertos dos seus poemas e de cartas publicadas - com narrativas e personagens ficcionais, estas num registo irónico.

Pela invocação que se faz da poetisa, da sua personalidade, da sua vida e do contexto histórico em que viveu, esta peça tem também objectivos didácticos. O tratamento ligeiro, contrariando a ênfase literária e o rigor formalista, visam estimular o interesse dos destinatários.

Dura cerca de uma hora e quinze minutos e não tem intervalo.

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2006-07-14

O GRUPO



O teatro põe carne nas palavras.
Põe pernas no andar, põe olhos no olhar…


O teatro dá-nos o Outro que queremos confrontar – a sensação do Outro.
O outro-eu, decerto.

O teatro que fazemos pretende mergulhar no interior do ser humano como modelo do objecto artístico.
Enquanto isso, sobre si próprio, o artífice opera.

A Outra cena (die Anderer Schauplatz) é o nome com que Freud designou o espaço do sonho. Essa é a experiência que queremos partilhar com os públicos.

· formalmente, entusiasma-nos a ideia de «teatro pobre», despojado de artifícios desnecessários e desvalorizadores dos actores;
· materialmente, move-nos a expressão das ideias e dos sentimentos em detrimento das pantominas;
· socialmente, somos parciais porque privilegiamos dar representação aos sentimentos reprimidos, silenciados, no espaço privado ou na esfera pública;
· pessoalmente, valorizamos as nossas diferenças individuais como factores de criatividade e enriquecimento colectivo.


Uma Outra cena para despertar*
Por: Antonio Quinet
O espetáculo teatral é sempre, em maior ou menor grau, uma encenação do inconsciente. Assim como o inconsciente é estruturado por cenas teatrais.

Todos nós, seres humanos, somos atores de um drama cujo enredo nos escapa e cujo autor desconhecemos.

Lacan chamou-o simplesmente de o Outro - o Inconsciente – que, por mais que o conheçamos, permanece por definição algo desconhecido. O processo analítico é uma leitura/escritura dessa peça.

Eis o que Freud descobriu: os sintomas estão associados a cenas recalcadas, que são representações teatrais condensadas em, por exemplo, uma paralisia do pé, uma tosse, uma mera dor de cabeça ou uma compulsão. Eles estão associados não apenas a uma cena, mas a várias, uma remetendo a outra, como numa obra de teatro, até chegar a uma cena principal que Freud denominou traumática, que é sempre sexual, infantil e tingida de horror - o que dá o aspecto trágico do inconsciente. Como no teatro, não importa se elas foram efectivamente vivenciadas ou fantasiadas, elas existem por si mesmas no inconsciente e manifestam-se nas diversas versões das tragédias, maiores ou menores, de cada um de nós, fazendo-nos agir como que guiados para uma alteridade radical : o Inconsciente-autor.


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