2007-06-10

Romance de um vagabundo

ENSAIO:

RECORTE:


«Eu sou de um povo dali, que não vem ao caso dizer o nome... Ali nasci e ali fui criado em casa que, sem ser rica, foi sempre farta».

«Ainda falaram em meter-me no seminário e ainda o senhor padre João se pôs a ensinar-me latim, mas não tardou que desistissem. Disseram que não tinha queda para os estudos. Que padre teria eu dado?!»…

Calou-se, tirou as últimas fumaças do cigarro e arremessou para longe a ponta, que ainda um momento ficou a luzir na areia branca do caminho. Depois, na voz mansa um leve tom de precipitação, quase ofegante, continuou a sua história...

COMENTÁRIO


Ao propor ao grupo a adaptação dramática de «Pedro, Romance de um vagabundo», não sabia que outra adaptação fôra feita há bastantes anos por Assis Pacheco para um filme de Alfredo Tropa, com o nome «Pedro, só».

Pertencendo eu a uma geração mais nova de realizadores da RTP, mas tendo sido durante anos colega de trabalho de Alfredo Tropa, não me fica bem esse desconhecimento, mas compensa-me o prazer da surpresa.

Mérito maior para o autor do romance original, MANUEL MENDES, quando vemos como o interesse pela sua obra se mantém, decerto porque o tema continua actual mas também pela frescura, a ironia e o sentido humanista da escrita. Pela exaltação da liberdade e da dignidade do Homem, que se não confundem com jogos de aparências e antes podem vestir-se com andrajos de pedinte.

António Moreno


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2007-06-09

"Romance..." (ensaios)









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2006-07-15

O MEDO


«O MEDO» é a estória de uma mulher dominada pelo pânico de ver denunciada ao marido a relação que mantém com um amante. Mas é também uma aproximação aos mecanismos psicológicos que geram este sentimento e os comportamentos consequentes.

Nesta adaptação teatral, a protagonista conta um episódio da sua vida, ocorrido vinte anos antes, que vai sendo representado pelas respectivas personagens: ela própria, o marido, o amante e uma chantagista.

Um espectáculo que invoca, ao mesmo tempo, a personalidade cívica e intelectual de Stefan Zweig, o escritor judeu que nasceu na Áustria, foi cidadão do mundo e pôs fim à vida, no Brasil, em 22 de Fevereiro de 1942.


NARRADORA - Paula Calhau
IRENE WAGNER - Ana Reis
FRITZ(MARIDO) - Luís da Nóbrega
EDUARDO(AMANTE) - Nuno Carvalho
ACTRIZ(CHANTAGISTA) - Paula Mendes

uma época, um autor, uma estória

Nas vésperas da primeira Guerra Mundial, o escritor não imaginava os acontecimentos que se iriam seguir e como o medo iria dominar a vida das pessoas durante dezenas de anos. Mas a escolha do tema parece adivinhatória, à luz do que seria a História Universal nas décadas seguintes.

Tendo convivido com Sigmund Freud, Roman Rolland, Reiner Rilke, Claudel, Maximo Gorki, entre outras figuras proeminentes do século XX, Stefan Zweig foi ele próprio um autor fascinante na forma como viveu e como escreveu.

Não pode ser ignorado ou esquecido.

António Moreno

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Fotos de «O MEDO»






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PENSAO IMPERIAL

Inspirado em "Albergue Nocturno" de Máximo Gorki.

Da esquerda para a direita na foto: NINA - Ana Reis * PINTAS - Luis da Nóbrega * ESTRELA - Paula Mendes * GASPAR - João Pinto * NANDO - Nuno Carvalho * DONA ROSA - Paula Calhau * BRASUCA - Ricardo Carvalho * FÁTIMA - Sívia Rato * MAQUILLAGE - Paulo Nogueira * PADRE - C. Palminha

Uma pensão velha e degradada sobrevive à margem do desenvolvimento e hospeda gente igualmente marginal. Desde logo, a dona da pensão, antiga estrela do Parque Mayer de que herdou apenas recordações e uns vestidos inúteis. Mas também um «pequeno-comerciante»… de droga, à procura de negócio mais rentável; a mulher desempregada, de quem a sociedade quer mais os braços do que a força de trabalho; outra mulher para quem a Igreja foi a fantasia da infância e o bar nocturno é a realidade em que tem de viver; também o Pintas que trocou a droga pelas tintas, e um braço pela piedade, para enganar turistas consumidores de… malas-artes. Um espaço de pequenas misérias que atrai um padre generoso na esperança de levar a salvação aos desgraçados. E entre estes, um traumatizado da guerra, obcecado por vingar a morte do pai.

Inspirado em «O Albergue Nocturno» de Maximo Gorki, mas desviando-se dele no tempo e na geografia, esta pensão degradada alberga, também ela, pessoas marginais ou que têm de comum alguma ligação com a marginalidade social.

Nos finais do século XX, Portugal - representando aqui muito mais que um só país – é impotente para integrar os seus próprios escravos sociais, indivíduos inadaptados que estabelecem as suas próprias formas de organização numa lógica de transgressão.

Encontramos tudo isso representado nesta Pensão Imperial onde o presente de cada um é suportado apenas pela nostalgia e pela utopia, pela memória de um passado irrecuperável e pelo anseio de um futuro inatingível.

Ligando os fantasmas de um passado recente com a actualidade, um homem angolano que desde criança impôs a si próprio uma missão – vingar a morte do pai na guerra colonial dos anos 60/70.

FANTASMAS

Maquillage, o angolano que vem a Portugal depois da independência do seu país, para vingar a morte do pai na guerra colonial, é representado de formas diferentes nas duas versões em que a peça pode ser apresentada: ora é uma pessoa real ora é um fantasma interiorizado pelos hóspedes.

A um nível superior de leitura, esta versão do Maquillage-fantasma pretende convocar a ideia do fantasma imperial do(s) país(es) ex-colonizador(es), ou «fantasmas insepultos do império» a que se refere a obra de Margarida Calafate Ribeiro e Ana Paula Ferreira (org.) , «Fantasmas e fantasias imperiais no imaginário português contemporâneo» (Campo das Letras). Mas afinal, mesmo na versão em que Maquillage é uma personagem real, não deixa de invocar esse mesmo fantasma na memória do público.

À pergunta «O que é um fantasma?» Salman Rusdhie responde em “Os Versos Satânicos “: «Um assunto inacabado, só isso.» Nisto reside a actualidade da personagem no contexto mais vasto de «Pensão Imperial».

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AI FLOR, AI FLOR, AI FLORBELA

Texto dramático sobre a vida de Florbela Espanca.

Nele se cruzam narrativas e personagens verdadeiros - copiando frequentemente excertos dos seus poemas e de cartas publicadas - com narrativas e personagens ficcionais, estas num registo irónico.

Pela invocação que se faz da poetisa, da sua personalidade, da sua vida e do contexto histórico em que viveu, esta peça tem também objectivos didácticos. O tratamento ligeiro, contrariando a ênfase literária e o rigor formalista, visam estimular o interesse dos destinatários.

Dura cerca de uma hora e quinze minutos e não tem intervalo.

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